Frans Krajcberg é um pintor, escultor, gravador e fotógrafo, nascido na Polônia e naturalizado brasileiro.
Com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, Krajcberg buscou refúgio na União Soviética, onde estudou engenharia e artes na Universidade de Leningrado. Em 1941 engajou-se no Exército Polonês, e lutou até o fim da guerra em 1945. Residiu na Alemanha prosseguindo seus estudos na Academia de Belas Artes de Stuttgart.
Chegou ao Brasil em 1948, vindo a participar da primeira Bienal de São Paulo, em 1951. Durante a década de 1950 o seu trabalho era abstrato.


De 1958 a 1964 viveu entre as cidades de Paris, Ibiza e Rio de Janeiro, onde produziu os seus primeiros trabalhos fruto do contato direto com a natureza. Na década de 1960 morou em uma caverna no Pico da Cata Branca, região de Itabirito, no interior de Minas Gerais. Ali na região, à época, era conhecido como o barbudo das pedras, uma vez que vivia solitário, sem conforto, tomando banho no rio vizinho, enquanto produzia, incessantemente, gravuras e esculturas em pedra.
Em 1964, executou as suas primeiras esculturas com troncos de árvores mortas. Realizou diversas viagens à Amazônia e ao Pantanal Matogrossense, fotografando e documentando os desmatamentos, além de recolher materiais para as suas obras, como raízes e troncos calcinados. Na década de 1970 ganhou projeção internacional com as suas esculturas de madeira calcinada.
A sua obra reflete a paisagem brasileira, em particular a floresta amazônica, e a sua constante preocupação com a preservação do meio-ambiente. Atualmente, o artista tem se dedicado à fotografia.

Krajcberg está radicado desde 1972 no sul da Bahia, onde mantém o seu ateliê no Sítio Natura, no município de Nova Viçosa. Chegou ali a convite do amigo e arquiteto Zanine Caldas, que o ajudou a construir a habitação: uma casa, a sete metros do chão, no alto de um tronco de pequi com 2,60 metros de diâmetro. À época Zanine sonhava em transformar Nova Viçosa em uma capital cultural e a sua utopia chegou a reunir nomes como os de Chico Buarque, Oscar Niemeyer e Dorival Caymmi.
No sítio, uma área de 1,2 km², um resquício de Mata Atlântica e de manguezal, o artista plantou mais de dez mil mudas de espécies nativas. O litoral do município é procurado, anualmente, no inverno, por baleias-jubarte. No sítio, dois pavilhões projetados pelo arquiteto Jaime Cupertino, abrigam atualmente mais de trezentas obras do artista. Futuramente, com mais cinco construções projetadas, ali se constituirá o Museu que levará o nome do artista.

 

 

Frans Krajcberg, uma luta pela vida!

Olá pessoal,

Eu aproveito a exposição Natura na Oca (Parque Ibirapuera - SP) para apresentar o artista brasileiro Frans Krajcberg que eu tive a chance de encontrar algumas vezes em Paris. Frans Krajcberg lutou a sua vida inteira pela sobrevivência : a sua própria e a da floresta brasileira. O combate dele contra a deflorestação continua, sua arte é sua arma e sua mensagem para nos alertar. Vamos conferir?

Frans Krajcberg chega ao Brasil em 1948. Neste país ele inicia um processo artístico, que ele vai desenvolver ao longo de toda a sua vida, ficando ligado à natureza. O artista utiliza fragmentos da natureza procedentes das queimadas da floresta, como as árvores carbonizadas, na criação de uma linguagem artística original. Para isso, ele isola-se na floresta à procura de materiais e de inspiração. O seu processo artístico vai da colheita dos pigmentos nas antigas minas, à criação de relevos e de esculturas de madeira queimada.

Ele defende uma arte socialmente engajada e através sua obra, denuncia a destruição da natureza.

Entre 1958 e 1964 ele vai regularmente à Paris e à Ibiza, onde começa a fotografar a natureza e a realizar as suas primeiras “gravuras de rochas” e seus “quadros de terra e de pedra”. É também durante estes anos que encontra Pierre Restany bem como os novos realistas e freqüenta o meio artístico e intelectual parisiense.

O drama vivido por Frans Krajcberg  durante a Segunda Guerra mundial (ele nasceu na Polônia  em 1921), onde perde toda a sua família nos campos de concentração, é transferido ao drama da devastação do ambiente, que o artista denuncia por meio das suas fotografias e das suas árvores-escultura.

A memória é onipresente em todo o seu trabalho artístico. Nas suas fotografias, que são obras de arte à parte e ao mesmo tempo registros da natureza, nas gravuras de folhas e rochas, nas esculturas em madeira.

A partir dos anos 80, as madeiras queimadas que o artista recupera na floresta amazônica passam a ser o ponto principal de seu trabalho. Este elemento bruto é trabalhado pelo artista para dar nascimento à obras de arte de uma incrível beleza.

O processo artístico de Frans Krajcberg: a natureza como matéria prima essencial

Elemento bruto, utilizado na obra do artista, a árvore sempre constituiu um fundo simbólico indispensável na evolução da humanidade. Da árvore genealógica à árvore da memória, da árvore da vida à árvore do conhecimento do bem e do mal ou ainda à árvore da cruz, ela está presente em todas as civilizações.

A árvore é também um dos materiais privilegiados para um grande número de artistas, que a trabalham de maneiras diversas: “ Analisar a madeira, diz Claude Viallat, é também interrogar sua textura interna e externa, feixes de fibras que podem ser dissociados, trabalho sobre as fibras da madeira, pensar a casca separadamente, e os nós, as raízes, os cipós, etc..”.

Podemos constatar nas madeiras selecionadas pelo artista uma riqueza e uma beleza intrínsecas: verticalidade dos troncos, os cipós e raízes retorcidos, a aspereza das cascas, a maciez da madeira polida, a transparência dos entrelaçados, o drama das madeiras queimadas. Cada descoberta de matéria bruta é um momento de alegria para Frans Krajcberg pois ele pode começar novas experimentações.

Desde os anos 80, as madeiras queimadas retiradas da floresta amazônica se tornaram o ponto principal de suas obras. Frans Krajcberg recolhe troncos, cipós, raízes, todo material natural calcinado, para os transformar em objetos de arte.

« Minha obra é um manifesto. Eu mostro o que vi ontem no Mato Grosso, na Amazônia ou na Bahia. Eu mostro a violência contra-natureza feita à vida. A destruição tem formas ainda que ela fale do inexistente. Eu não procuro fazer esculturas. Eu procuro formas ao meu grito. Pintar a música pura não é facil. Como fazer gritar uma escultura como uma voz ? »

F.Krajcberg